sábado, 1 de setembro de 2012

Rascunho imperfeito de uma salvação lucida

A indignação generalizada contra tudo e todos, como muitas pessoas o fazem agora, só gera violência verbal e angustia, aumentando ainda mais nossa indignação que, sem um alvo pré-determinado, explode dentro de nós e nos atordoa, impedindo que possamos enxergar com clareza quais são os nossos aliados e oponentes nas causas pelas quais lutamos e defendemos (os diversos ataques despropositados que vemos todos os dias nas redes sociais mostram-se como uma clara evidencia disto). Assim, a indignação que é movida somente pela paixão de se indignar torna-se cega e emudece – tal qual as forças que ela mesma se propõe combater. É como, de certa forma, o brado dos grandes guerreiros que une os murmúrios dos fracos e oprimidos, mas que posteriormente, ao instaurar-se como condição definitiva de liberdade e igualdade, torna-se o principal opressor.

Por isso, no meu ponto de vista, o principal problema dos discursos igualitários ainda é tentar criar coerência entre o sujeito simbólico a que sua causa defende e as diversas pessoas que constituem o seu movimento que, diferentes de um personagem de uma tira em quadrinhos, não são acabados em si e tem por principal caracterísca da condição humana, fazerem a si mesmos em cada uma de suas ações e escolhas, podendo ou não ser coerentes com seus discursos passados e suas escolhas de outrora. Desta forma, a nossa indignação de agora é contra as escolhas que nós mesmos fizemos no passado. O discurso que nos liberta hoje é o mesmo que nos oprime amanhã e isso nos angustia e então nos rebelamos – contra nós mesmos. De tudo isso, fica claro o fato de que somos incoerentes e inconstantes e que, se é justamente isso que nos torna humanos, talvez seja isso que devamos aceitar. Então, da próxima vez que se indignar, deixe de criticar o que não vale a pena ser criticado e se indigne e lute por uma causa que seja aquela que realmente o liberte: a sua.

2 comentários:

  1. Parabéns, Lucas! Excelente texto p refletir... "Se alguém souber tirar proveito da experiência da angústia, se tiver coragem de ir mais além, então dará à realidade outra explicação: exaltará a realidade e, até quando ela pesar duramente sobre ele, recordar-se-á de que ela é muito mais leve do que era a possibilidade".(Kierkegaard)

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  2. Lindo isso, Luciana.
    Salvando meu dia.
    Obrigado!

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