A
indignação generalizada contra tudo e todos, como muitas pessoas o
fazem agora, só gera violência verbal e angustia, aumentando ainda
mais nossa indignação que, sem um alvo pré-determinado, explode
dentro de nós e nos atordoa, impedindo que possamos enxergar com
clareza quais são os nossos aliados e oponentes nas causas pelas
quais lutamos e defendemos (os diversos ataques despropositados que
vemos todos os dias nas redes sociais mostram-se como uma clara
evidencia disto). Assim, a indignação que é movida somente pela
paixão de se indignar torna-se cega e emudece – tal qual as forças
que ela mesma se propõe combater. É como, de certa forma, o brado
dos grandes guerreiros que une os murmúrios dos fracos e oprimidos,
mas que posteriormente, ao instaurar-se como condição definitiva de
liberdade e igualdade, torna-se o principal opressor.
Por isso,
no meu ponto de vista, o principal problema dos discursos
igualitários ainda é tentar criar coerência entre o sujeito
simbólico a que sua causa defende e as diversas pessoas que
constituem o seu movimento que, diferentes de um personagem de uma tira em quadrinhos, não são acabados em si e tem por principal
caracterísca da condição humana, fazerem a si mesmos em cada uma
de suas ações e escolhas, podendo ou não ser coerentes com seus
discursos passados e suas escolhas de outrora. Desta forma, a nossa
indignação de agora é contra as escolhas que nós mesmos fizemos
no passado. O discurso que nos liberta hoje é o mesmo que nos oprime
amanhã e isso nos angustia e então nos rebelamos – contra nós
mesmos. De tudo isso, fica claro o fato de que somos incoerentes e
inconstantes e que, se é justamente isso que nos torna humanos,
talvez seja isso que devamos aceitar. Então, da próxima vez que se
indignar, deixe de criticar o que não vale a pena ser criticado e
se indigne e lute por uma causa que seja aquela que realmente o
liberte: a sua.
Parabéns, Lucas! Excelente texto p refletir... "Se alguém souber tirar proveito da experiência da angústia, se tiver coragem de ir mais além, então dará à realidade outra explicação: exaltará a realidade e, até quando ela pesar duramente sobre ele, recordar-se-á de que ela é muito mais leve do que era a possibilidade".(Kierkegaard)
ResponderExcluirLindo isso, Luciana.
ResponderExcluirSalvando meu dia.
Obrigado!